segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Curas, vícios e afins

A solidão pela qual passei acabou por tornar-se a minha muralha inatingível e inabalável, reforçada com cavalares doses de nicotina e wisk amargo, onde refugiei-me para ter a cura da mais doída das dores. Durante muitas noites, sem me mover, olhos fechados, gritei gritei e gritei até que tudo passasse,  até que tudo fizesse sentido, mesmo que incompleto, até que o sol saísse, mas ele nunca chegava.
Foi então que aparecestes, de início acreditei que não passaria de um simples analgésico para uma dor que nem mesmo morfina era capaz de apaziguar. Mas agora, quando tu chegas, me rouba a voz, e me leva o gesto, fazendo com que me cale e me imobilize diante a sua presença adoravelmente perturbadora. O certo se torna errado, o simples se complica e a razão vira sandice, com suas palavras embriagantes e aterradoras.
Com os olhos mais perfurantes que se é possível ter, tu me decoras como tem o costume de fazer com os textos de tuas peças e as partituras de suas músicas, incapacitando-me de qualquer chance de defesa. Hipnotiza-me com um simples sorriso, maldoso e sarcástico, e de uma forma ingênua de quem já não tem mais espaço para  novas cicatrizes, me entrego sem qualquer hesitação.
Tu és minha nova droga, pela qual acabo de desenvolver uma grande dependência, porém tu também és a cura pela qual procurei por noites a fio em minhas caminhadas tendo apenas lágrimas e algum cigarro como companhia. Um vício dando lugar a outro, será isso o certo a se fazer? Ao menos agora é o que farei, quem sabe até quando...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

I totally miss you

Sinto sua falta. Sinto sua falta todas as vezes que ouço uma música, sinto sua falta todas as vezes que alguém faz uma piada. Sinto falta de quando parávamos para observar o céu sem motivo algum e silenciosamente tínhamos as melhores e mais esclarecedoras conversas.


Sinto sua falta quando a chuva cai lá fora e não tenho a quem me agarrar, sinto falta do seu perfume mesmo ele ainda estando dentro de livros e pelos cantos da sala, sinto sua falta sempre que assisto um filme.

Sinto realmente sua falta quando vou fazer uma fotografia, meus olhos buscam para o além do olhar, buscam pela paisagem mais bela que já pude um dia fotografar, buscam pelo seu sorriso. Sinto sua falta quando compro um livro e não tenho para que ler. Sinto sua falta ao ouvir um acorde e saber que não foi você quem o fez.

Sinto muito sua falta toda vez que vou escrever, pois junto contigo foram minha inspiração, e o sentido em colocar belas palavras em uma folha de papel. Sinto sua falta ao olhar as fotos do mural, sinto sua falta quando encontro um bilhete bobo dentro de uma gaveta, sinto sua falta quando saio para ir a aula.

Tento amenizar sua ausência dormindo abraçada a uma almofada, e gravando o seu nome dentro de um anel, incansavelmente repasso e revivo em minha mente cada momento que passamos lado a lado. Lembro de cada brincadeira, cada palavra dita e cada palavra por mim quase dita, da brigas, dos gritos doídos e cortantes, dos sorrisos, textos rabiscos, das poesias, letras e planos que seriam suficientes para fazer um livro de mil páginas. Recordo de cada tentativa minha de mudar só pra te agradar, de cada coisa que passei a gostar só porque antes achei que você iria gostar. Não esqueço das milhares de noites em que eu olhava para as estrelas e pedia a elas que me dessem você de presente, pois o tempo em que podia desfrutar de tua presença nunca parecia suficiente. Nunca é.

Sinto sua falta quando o telefone toca e não vejo seu nome chamando, sinto sua falta ao deparar com uma página dobrada ou um disco arranhado, minhas batidas perderam a magia e agora não passam de meros batuques. Sinto sua falta quando sorrio, pois agora tenho um sorriso vazio e apatico, pois sinto a falta do calor de minha vida.

domingo, 11 de outubro de 2009

Cicatrizes de Covardia


Tempos sem aqui refugiar meus pensamentos. Muito a dizer, muito a questionar, pouca a vontade de escrever, forço-me a isso, pois a única certeza que acredito ter neste momento é a de que depois desta página completa, palavra por palavra uma pequena injeção de ânimo me será ministrada.
Dentro de mim sinto um vazio de tamanho inexistente e é dele que me alimento e faço de nascente para minhas palavras tão incoerentes e insensatas. Os ponteiros do relógio parecem voar, tento agarrá-los segurá-los, para que o pouco que me é presenteado seja bom o suficiente, mas eles escapam-me entre os dedos como areia no vento do deserto.
Diante de todo o sangue e de todas as lágrimas, que agora secam ao tempo, me forço a acreditar que a aceleração do contador de horas veio a ser conveniente. Os cortes se fecharam e deram lugar a nove cicatrizes, sim sei que são nove porque as contei, em mais um ato mórbido de quem não vê mais sentido algum em qualquer outra coisa a se fazer, porém espero que com o avançar dos meses o Sol as apague, pois delas, não tenho orgulho algum.
A covardia se apoderou de minha alma, e em meu corpo agiu deixando essas marcas tão feias, que a ninguém aconselho, mas que no momento em que chegaram afirmo sem a menor duvida de que foram as melhores amigas que tive.
Tento rumar a um novo destino, pois o meu nem reescrever mais é possível. Continuo a sentir o peso de minha alma falando, lamentando, chorando.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Preparação

Preparei um café com grãos frescos, e uma fornada de biscoitos doces que estão na mesa da cozinha.
Acendi a lareira e coloquei umas almofadas lá na sala.
Joguei o antidepressivo no lixo junto aos livros de auto-ajuda.
Pra quando vocês chegarem.
Separei uns textos junto com as músicas que eram nossa trilha sonora, ara uma vez mais serem o plano de fundo do nosso encontro.
Tem também um álbum com fotos dos melhores momentos de nossas vidas para passarmos horas relembrando cada um deles.
Pra quando vocês chegarem.
Eu cortei o fio da campainha, tirei o telefone do gancho e desliguei o celular, desse jeito nada vai nos apressar muito menos atrapalhar.
Tirei o pó do tabuleiro de Imagem & Ação, comprei uma baralho novo e aprendi novos truques de videogame.
Pra quando vocês chegarem.
Peguei umas receitas, pra talvez quem sabe, a gente fazer um fondue de queijo ou chocolate.
Mandei que fizesse bastante sol para podermos fazer uma guerra de bexigas com água lá fora.
Mandei q depois começasse a nevar pra corremos pra dentro e ficarmos curtindo o friozinho.
Pra quando vocês chegarem.
Preparei uma lista de coisa que gostaria de dizer, junto a uma pá de desculpas que gostaria de pedir, e um rio de lágrimas de felicidade que irei chorar.
Pra quando vocês chegarem.
Quero que sintam como se nunca tivessem ido, pois de fato dos meus pensamentos, vocês nunca foram.

domingo, 10 de maio de 2009

O vento sopra e nada se move, outro indício de que o tempo realmente se estagnou. Barulho algum é ouvido, nem mesmo o abstrato parece quere se manifestar. Os pássaros não cantam os rios não correm as estrelas não brilham.
Em meu passo tímido sigo meu caminho para lugar algum ou algum lugar. Sinto todo peso do mundo em minhas costas, segundo a segundo repasso aquilo vivido até agora, vasculho meu passado e presente, procuro a razão de aqui estar, questiono-me a respeito de toda mentira que sempre da qual sempre me alimentei. As coisas estão confusas, turbulentas, insustentáveis, vejo meu castelo de cartas melhor dizendo de farsas desmoronar deixando apenas escombros.
Meus pés mecanizam minha caminhada e escolhem por si só os lugares favoritos da calçada. Estou a sete horas andando e creio q seja a quinta vez que passo pelo mesmo local. O celular toca, completando assim a décima sexta chamada ignorada, um bip nos fones de ouvido me informa a proximidade do fim das baterias. Trezentas milhas percorridas e nenhuma solução, motivo ou desculpa foi obtido.
Com quantas lágrimas se mede uma dor? Com quantos gritos se cura uma apatia? De quantos pedidos de perdão necessito para consertar toda uma vida? Por quantas horas ainda poderei fugir?
Sento-me a sombra de uma arvore e observo as ruínas de meu castelo de farsas, meio a elas em um vôo leve e lento, uma borboleta lilás se aproxima, para diante de mim, sorri e se vai ao mesmo instante. Como por magia sinto um feixe de luz se acende dentro de mim, e sem razão alguma aparente sorrio, e pela primeira vez no dia esqueço de tudo e consigo pensar apenas na borboleta lilás e em seu sorriso acolhedor, capaz de me tirar da fenda atemporal e sombria na qual me escondi. Aquela borboleta acaba de devolver-me ao mundo, e agora desejo fazer tudo diferente, desejo bases sólidas, concretas.